Amor
aos bairros e a Lisboa, que é de todos!
Enquanto
os bairros cantarem
Enquanto
houver arraiais
Enquanto
houver Santo António
Lisboa
não morre mais
Norberto
de Araújo, Grande Marcha de 1950, interpretada por Amália Rodrigues
Todos
os dias, durante meses, crianças, jovens e adultos entregam-se de alma e
coração à criação e ao ensaio das coreografias e canções, e à preparação de
trajes e arcos que representam o seu bairro, o seu orgulho.
Na
noite de 12 de Junho, a Avenida e a cidade enchem-se de música, cor, brilho e
emoção, naquela que é para muitos a noite mais esperada do ano.
Registos
há de pequenos grupos que se deslocavam com archotes, cantando em competição –
as marchas ao filambó, uma adaptação das francesas marches au flambeaux. Mas
foi em 1932 que, com o objectivo de revitalizar o Parque Mayer, alguns núcleos
bairristas desfilaram no Capitólio a convite de Leitão de Barros. Alto do Pina,
Bairro Alto e Campo de Ourique foram os ranchos (como se chamavam na altura)
participantes, ainda sem o tom alfacinha como tema central, mas já em formato
de competição. Campo de Ourique, com os seus trajes minhotos, foi o vencedor da
primeira edição.
Leitão
de Barros, fazendo uso do seu prestígio na cidade e no Diário de Lisboa,
percorreu as colectividades para que cada uma mostrasse o que tinha de
particular, com o objectivo de dar um cunho lisboeta às marchas, chamando mais
público. Em 1934, 300 mil pessoas assistiram ao desfile de 12 bairros e 800
marchantes, desde o Terreiro do Paço até ao Parque Eduardo VII.
No
ano seguinte, foi a primeira vez que todas as marchas cantaram uma composição
comum – a Grande Marcha de Lisboa Lá vai Lisboa, de Raúl Ferrão e Norberto de
Araújo. Também neste ano foram instituídas regras: fixou-se o número de
marchantes, de músicos e de acompanhantes.
Ao
êxito de 1935, e em grande parte devido ao conflito internacional em que se
vivia, seguiu-se um longo interregno, com excepção para os anos de 1940, com a
celebração dos Centenários da Independência e da República, e de 1947, data do
8.º Centenário da Conquista aos Mouros.
Nos
anos 50, as marchas adquirem um enorme prestígio, tendo sido assistidas pelos
mais altos dirigentes do Estado e apadrinhadas por vedetas da rádio e do
teatro. Em 1952, a novidade é a deslocação do desfile para o percurso que
conhecemos hoje, do Marquês de Pombal aos Restauradores.
Depois
de mais um período instável, a partir de 1963, e até 1970, o desfile ocorreu
sem interrupções, sendo nesse ano que a televisão se torna um espectador
assíduo, primeiro a preto-e-branco e mais tarde, com cor, revelando toda a
essência e esplendor das Marchas.
Na
década de 60 começam as exibições em recinto fechado, no Pavilhão dos
Desportos, no Parque Eduardo VII. Nessa altura registou-se um dos percursos
mais longos – do Parque ao Terreiro do Paço, com passagem pelas Avenidas
Sidónio Pais e Fontes Pereira de Melo. Em 65, aparecem os carros alegóricos e,
em 69, as mascotes – crianças que acompanham a marcha vestidas a rigor. No
início dos anos 70, assiste-se ao progressivo declínio das Marchas que chegaram
mesmo a extinguir-se depois da Revolução de Abril, por estarem associadas ao
Estado Novo. Só em 1980 regressam à Avenida, mantendo um ritmo anual até hoje.
In
Câmara Municipal de Lisboa/EGEAC
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